A grande teia portuguesa
Portugal arrasta-se há décadas num problema sistémico de corrupção e de crimes que deviam envergonhar qualquer democracia. São crimes que não ficam confinados a gabinetes ou tribunais: afetam-nos a todos, todos os dias, e a pergunta permanece insolúvel — até quando vamos tolerar sem agir?
José Sócrates, ex-primeiro-ministro, é a face mais visível desta realidade sombria. Acusado de mais de trinta crimes, que vão de corrupção ativa e passiva a branqueamento de capitais e peculato, a sua gestão marcou o país com decisões danosas, calibradas para o falhanço e para o colapso de instâncias públicas e privadas. E, enquanto isso, o país assistia, quase impassível, à degradação do seu próprio futuro.
Nesta rede, Ricardo Salgado assume o papel de arquiteto da teia. A falência do Grupo Espírito Santo, incluindo o BES, e a influência sobre a PT Comunicações moldaram escolhas de liderança, como a nomeação de Henrique Granadeiro, selecionado pelo próprio dono do BES para gerir a PT. Um país inteiro a ver decisões estratégicas moldadas por interesses privados, longe do interesse público.
Quinze anos depois, continuamos a pagar o preço. A saúde mantém-se vulnerável a falsificações, desde operações a prescrições de medicamentos. A TAP, orgulho estratégico do país, recebeu quantias astronómicas dos contribuintes e acumula, no período recente, prejuízos na ordem dos 650 milhões de euros.
E no fim, a conclusão é inevitável e amarga: continuamos a pagar tudo, nós, os contribuintes, enquanto o Governo se mostra reticente em promulgar leis que realmente beneficiem os portugueses. A teia mantém-se intacta, e nós, impotentes, observamos.

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